sexta-feira, 8 de junho de 2007

Tempo.

Acordo, de manhã, e penso duas, três vezes se me levanto ou se continuo afogada nos lençóis que me prendem a um sono descomunal… Não me apetece dormir, nem acordar.
Vejo as horas, acendo a luz de olhos cerrados, como se tivesse medo que me cegasse, com uma expressão horrorizada daquilo que é mais um dia de estudo desgastante.

O tempo. Relembro. Pedes, constantemente, desculpa, por seres como és (ás vezes). Mas nada fazes, e assim continuas. Não te peço que me olhes e me gostes, nada disso. Mas apetece-me dizer-te, gritar-te, berrar-te ACORDA! Vives numa contínua confusão de vidas entrelaçadas, procuras tudo aquilo que eu própria já procurei um dia. Perdido. Entendo. O tempo.
Apetece-me pegar em ti e ameaçar-te com a vida, não quero que te inundes, mas não te censuro (nem poderia sequer!).
Pequeno… Pequeno que tu és, e pequeno que é o mundo horripilante ao qual te limitas. Podes ter mais, muito mais, eu sei, acredita que sei…

Decido, por fim, levantar-me. (“Não quero ficar com um peso na consciência.”) Depois de um banho propositadamente demorado, de modo a evitar horas desconfortáveis sentada na cadeira dura e nada apelativa (nesta altura, todas as cadeiras são assim), preparo-me e sigo. Phones nos ouvidos, mp3 a tocar; músicas deprimentes ecoam num sopro trépido de chegar ao “nunca mais”…

Como te invejo. Gostava de ter alguém como eu na minha vida. (Não, não é egocentrismo.) Que me gostasse, como eu, mas mais. E, no entanto, fazes-me esmorecer, de cabeça pendurada, balançando na incerteza certa de que não serás, tão cedo. Acorda…Vive, (bem). Não sou anjo. Nem quero ser (jamais)! Refilo-te apenas por amizade, sim. Já não te desperto o visível e inegável. Estou sempre ao teu lado, como dizes. Mas, ocasionalmente, me canso de te ter assim, indefinido, disperso. Desencontrado.

No caminho rotineiro, estrada esburacada, gaivotas pousam num passar elegante de saber quem é, segura da sua certeza bicuda, pescoço erguido, olhar directo, “sou!”.

Tenho a liberdade das asas seguramente assegurada, porque me liberto quando quero. Não me prendo ao sinuoso caminho que não me leva a lado nenhum. Já não me fascina ir por ficar, nem ficar por ir. Vou indo, quando calha, quando a vontade me tortura num suplício simples e humildemente entendido, como bem me apetecer.
Fechei a cortina à tua alma na minha. Encerrei a possibilidade de seres quem sou. Basta cair uma pedra desenganada que me permite antever uma mágoa de prognose, que sei que não. Agora sou eu (apesar de sabermos que nunca deixaste de querer, eu é que quis que não quisesses). És apenas a minha ingenuidade similar ao que fui. A minha criança perdida na raiva de um desamor, que tenta energicamente numa fúria, ignóbil mas perceptível e compreendida, exorbitantemente desmesurada vingar-se numa vida de vidas. Não te vou dizer que perdes com isso, muito pelo contrário. Ganhas. Pelo menos eu ganhei, interpretando mentes completamente dissemelhantes, descobrindo histórias e modos de ser… Cada pessoa é absolutamente única, sabias? Absolutamente, mas com diferenças vivamente desiguais…
Só queria que pertencêssemos ao mesmo ar. Mas os anos mudam, épocas se alteram. “Timings” desencontrados. Mas prometo-te uma coisa, um dia vais ser feliz, tranquilo e pacificamente encontrado na tua vida. Um dia vais ser grande (muito mais), porque és, porque mereces, porque no fundo, bem no fundo, vais sentindo a perda de alguém que te adora desenfreadamente de um modo terno e quer, simples e honestamente, que sejas tu, a ser como és, e como melhor podes ser.

A vida está ali. Basta quereres. Eu quero.

[Sinto falta de te ter como nunca te tive (e não te tive de modo nenhum), quando vais acordar? No fundo, só queria estar contigo... Mas já não tenho capacidade de ser maternamente encarada… Quero ser pequenina, simplesmente. Desculpa. Incompatibilidade mútua. Porventura, um dia.]

4 comentários:

João Fachana disse...

Olha olha quem eu encontro pela "blogosfera"!;)

Sim senhor, pelo que li do teu blog gostei bastante! Escreves muito bem!

Beijinhos e vai aparecendo pelo "ponto";)

Clara Mafalda disse...

nao me acredito no tempo. estou farta de promessas embrulhadas num 'talvez mais tarde', 'quem sabe depois' ou ainda pior, 'o tempo cura tudo'.
as vezes as vidas desencontram-se, outras vezes embrulham-se em histórias e tornam-se a desembrulhar, mas tenhoa certeza que te espera um futuro brilhante, com o timing exacto e a garra precisa.
beijinho gd madrinhex linda

Rita Sem disse...

pois é afilhadinha...ms as vezes é preciso acreditar no tempo...pa deixar de acreditar no impossível, e poder seguir em frente, sem ficar presa a um passado impossível...as vezes... beijao gd** =)

White Castle disse...

Olá!

Por indicação do Sr. Fachana ;) adicionamos o teu blog ao Blog do Jornal Tribuna em:

www.jornal-tribuna.blogspot.com

Fica bem ;)