segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Um fio de luz...

Estou sentada num banco de madeira que me foi dado quando ainda via as borboletas como anjos e as bonecas como irmãs. Um banco pequenino e simples de madeira acastanhada e gasta, e que apesar de balançar me segura fortemente e me agarra naquele chão sujo e podre de memórias feridas.
Naquela casa no alto da montanha sombria encontro o passado que ainda me persegue e que sei que me vai perseguir até que um dia me liberte de vez. Penso no que fiz e no que não devia ter feito. Arrependo-me de tudo e de nada. Sento-me, olho para o chão e ali fico, curvada diante de mim mesma, perante as tristezas que superei e principalmente perante aquelas que não me deixam.
Porque sei que errei.
Na escuridão daquele quarto apenas completo por um pequeno banco de madeira, vejo a porta entreaberta como se me desse algum sinal. Não fechei a porta porque acredito no impossível, acredito num simples perdão de quem não é capaz de o fazer. Mas também não o quero. Acredito mas não quero. Não porque não mereço, simplesmente porque já passou. Já passou... Agora espreito pela abertura de pó e de luz que abrem uma esperança para algo melhor, ou pelo menos mais tranquilo. Já não luto, já não corro. Espero. Espero que um dia alguém me tire desta casa que ameaça cair, desta casa fraca e forte que me defende de nada. Porque a montanha está sozinha... A casa está sozinha. Eu estou sozinha comigo mesma e por isso mesmo não estou completamente sozinha... Sei que um dia vou abrir aquela porta, vou reconstruir aquela casa e restaurar aquele banco. Mas noutro sítio, longínquo. Onde só as estrelas me irão encontrar... Onde só a vida me irá abraçar... Sei que um dia me vou perdoar e corrigir a minha história, a minha vida. Mas não quero o perdão de ninguém. Não preciso. Só quero ter-me a mim, esteja eu onde estiver...

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